domingo, 29 de agosto de 2010

Ex-menina de rua de SP estuda Medicina em Cuba- Retirado de Carta Capital

ENRIQUECEDOR RELATO QUE NÃO PODERIA DEIXAR DE PUBLICAR AQUI NO BLOG.

Ex-menina de rua de SP estuda Medicina em Cuba
Balaio do Kotscho

29 de agosto de 2010 às 11:09h

Graças a alguns “papa-hóstias”, como costumo chamar meus amigos da igreja, fiquei sabendo da história dela durante um agradável almoço na Feijoada da Lana, na Vila Madalena, a melhor da cidade. Repórter vive disso: tem que andar por aí, conversar com todo mundo para descobrir as novidades, ficar sabendo de personagens cuja vida vale a pena ser contada.

É este o caso da jovem Gisele Antunes Rodrigues, de 23 anos, ex-menina de rua de São Paulo, nascida em Ribeirão Pires, que deu a volta por cima e hoje está no terceiro ano de Medicina. Detalhe: ela estuda no Instituto Superior de Ciências Médicas de La Habana, em Cuba, onde estão matriculados outros 275 brasileiros.

Gisele veio passar as férias no Brasil e, na próxima semana, volta a Cuba. Como ela foi parar lá? Ninguém melhor do que a própria Gisele, que escreve muito bem, para nos contar como é a vida lá e como foi esta sua incrível travessia das ruas de São Paulo até cursar uma faculdade de Medicina em outro país.

A meu pedido, Gisele enviou seu depoimento nesta sexta-feira e eu pedi autorização para poder reproduzí-lo aqui no Balaio. Tenho certeza de que esta comovente história com final feliz pode servir de estímulo e inspiração a outros jovens que vivem em dificuldades.

Para: Ricardo Kotscho

Olá!!!

Autorizo o senhor a publicar essa história. Caso deseje, pode corrigir os erros. Mas, por favor, sem sensacionalismo. Tente seguir mais o menos o texto abaixo. Desculpa por escrever isso, mas eu já tive problemas.

Gosto do seu blog, vou tentar acessar nele em Cuba.

Abraços

Gisele Antunes

***

Só mais uma brasileira

Saí de casa com 9 anos de idade porque minha mãe espancava eu e meu irmão. Não tínhamos comida, o básico para sobreviver. Meu pai nunca foi presente. É um alcoólatra que só vi duas vezes na vida. Minha mãe é uma mulher honesta, mas que não conseguia educar seus filhos. Já foi constatado que ela tem problemas mentais.

Ela trabalhava como cigana na Praça da República. Quando eu fugi de casa segui esse caminho, e encontrei uma grande quantidade de meninos e meninas de rua. Apresentei-me a um deles, este me ensinou como chegar em um albergue para jovens, e a partir desse momento passei a ser menina de rua. Só comparecia nessa instituição para comer, tomar banho e ter um pouco de infância (brincar). No meu quinto dia na rua, comecei a cheirar cola e depois maconha.

Alguns educadores preocupados com a minha situação tentavam me orientar, mas de nada valia. Foi quando me apresentaram a uma religiosa, a irmã Ana Maria, que me encaminhou para um abrigo, o Sol e Vida. Passei uns três anos lá e deixei de usar dogras. Esta instituição não era financiada pelo governo. Quando foi fechada, me encaminharam a outros abrigos da prefeitura, entre eles o Instituto Dom Bosco, do Bom Retiro. E assim foi, até os 17 anos.

Para alguém que usa droga, não era fácil seguir regras. Foi por muita persistência e um ótimo trabalho de vários educadores que eu consegui deixar a drogas, sair da desnutrição e recuperar a saúde após anemia grave.

Na infância, era rebelde, não queria aceitar a minha situação. Apenas queria ter uma família. Mas havia algo que eu valorizava _ a escola e os cursos que eu fazia na adolescência. Aos 14 anos de idade, comecei a jogar futebol, tive a minha primeira remuneração. Aos 16 anos, entrei em uma empresa, a Ericsson, que capacitava jovens dos abrigos para o mercado de trabalho. Essa empresa financiou meu curso de auxiliar de enfermagem e o inicio do técnico. O último não foi possível concluir.

Explico: existe uma lei nas instituições públicas segunda a qual o jovem a partir dos 17 anos e 11 meses não é mais sustentado pelo governo, tem que se manter sozinho. Como eu não tinha contato com a minha família, quando se aproximou a data de completar essa idade, entrei em desespero.

A sorte foi que a entidade, o Instituto Dom Bosco Bom Retiro, criou um projeto denominado Aquece Horizonte. Este projeto é uma república para jovens que, ao sair do abrigo, podem ficar lá até os 21 anos. Os coordenadores e patrocinadores acompanham o desenvolvimento do jovem neste período de amadurecimento.

As regras mais básicas da república são: trabalhar, estudar e querer vencer na vida. No segundo ano de república, eu desejava entrar na universidade, mas sabia que não tinha condições de pagar a faculdade de enfermagem ou conseguir passar na universidade pública.

Optei então por fazer a faculdade de pedagogia. É uma área que me encanta, e a única que podia pagar. No primeiro semestre da faculdade de pedagogia, um educador do abrigo, o Ivandro, me chamou pra uma conversa e me informou sobre um processo seletivo para estudar medicina em Cuba. Fiquei contente e aceitei participar da seleção.

Passei pelo processo seletivo no consulado cubano e estou desde 2007 em Cuba. Dou inicio ao terceiro ano de medicina no dia 06 de setembro de 2010. São 7 anos no país, sendo 6 de medicina e um de pré-médico.

Ir a Cuba foi minha maior conquista. Além de aprender sobre a medicina, aprendo sobre a vida, a importância dos valores. Antes de ir, sempre lia reportagens negativas sobre o país, mas quando cheguei lá, não foi isso que vi. Em Cuba, todos têm direito a educação, saúde, cultura, lazer e o básico pra sobreviver.

Li em muitas revistas que o Fidel Castro é um ditador, e descobri em Cuba, que ele é amado e idolatrado pelos cubanos. Escrevem que Cuba é o país da miséria. Mas de que tipo de miséria eles falam? Interpreto como miséria o que passei na infância. Em casa, não tinha água encanada, luz, comida.

Recordo que tinha dias em que eu, meu irmão e minha mãe não conseguíamos nos levantar da cama devido a fraqueza por falta de alimento. Tomávamos água doce pra esquecer a fome. Então, quando abro uma revista publicada no Brasil e nela está escrito que Cuba é um país miserável, eu me pergunto: se em Cuba, onde todos têm os direitos a saúde, educação, moradia, lazer e alimento, como podemos denominar o Brasil?

Temos um país com riqueza imensa, que conquistou o 8º lugar no ranking dos países mais ricos, mas sua riqueza se concentra nas mãos de poucos, com uns 60 % da população vivendo em uma miséria verdadeira, pior que a miséria da minha infância.

Cuba sofre um embargo econômico imposto pelos estados Unidos por ser um país socialista e é criticado por outros governos. No entanto, consegue dar bolsa para mais de 15 mil estrangeiros de vários países, se destaca na área da saúde (gratuita), educação (colegial, médio, técnico e superior gratuito para todos) e esporte (2º lugar no quadro de medalhas, na historia dos Jogos Panamericanos), é livre de analfabetismo.

A cada mil nascidos vivos morrem menos de 4. Vivenciando tudo isso, eu queria também que o Brasil fosse miserável como Cuba, como é escrito em varias revistas. Acho que o brasileiro estaria melhor e não seria tão comum encontrar tantos jovens sem educação, matando, roubando e se drogando nas ruas.

Vou passar mais quatro anos em Cuba e não quero deixar o curso por nada. Desejo concluir a faculdade e ajudar esse povo carente que sonha com melhoras na área da saúde, quero ajudar outros jovens a realizar os seus sonhos , como me ajudaram. Também pretendo apoiar meu irmão, que deseja estudar direito.

Tenho meu irmão como exemplo de superação. Saiu de casa com 13 anos de idade, mas não foi para uma instituição governamental. Morou em um cômodo que seu patrão lhe ofereceu. Enquanto eu estudava e fazia cursos, ele estava trabalhando para ter o pão de cada dia. Hoje, ele é um homem com 25 anos de idade, casado e tem uma filha linda, e mesmo assim encontra tempo pra me apoiar e me dar conselhos.

Foi muito bom visitar o Brasil. Depois de longos 13 anos tive um tipo de comunicação com a minha mãe. Isso pra mim é uma vitoria. Quero estar próxima dela quando voltar.

Conto um pouco da minha história, mas sei que muitos brasileiros ultrapassaram barreiras piores, até realizarem seus sonhos. Peço ao povo brasileiro que continue lutando. É período de eleições, peço também que todos votem com consciência, escolha a pessoa adequada pra administrar o nosso país tão injusto.

Gisele Antunes Rodrigues

Ser culto é o único modo de ser livre (José Martí)

*Matéria originalmente publicada no Balaio do Kotscho
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/ex-menina-de-rua-de-sp-estuda-medicina-em-cuba

domingo, 1 de agosto de 2010

As Veias Abertas da América Latina.

Garimpando alguns livros achei um tesouro que indico. Trata se de uma grande viagem histórica e literal, “As veias abertas da América Latina”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Quando falamos de América Latina este livro é considerado a aula inicial. Galeano em sua investigação concluída na década de setenta - só que mais atual do que nunca- nos apresenta uma narração histórica que permite chegar à realidade atual de nosso continente e compreender a origem social de nossos problemas. O roubo durante séculos de nossas riquezas naturais, a exploração econômica e cultural a que fomos submetidos por mais de 500 anos e que persiste ainda hoje com o roubo de cérebros, a compra de matéria prima e venda de tecnologias, as dívidas impagáveis do terceiro- mundo, o uso da mão de obra barata, enfim, um universo de informações e detalhes históricos que nos leva a refletir sobre o pouco que conhecemos de nossa própria casa e a real importância de nosso continente no atual contexto global.
Vale a pena ler...
Abaixo alguns trechos do livro:
“O bem estar de nossas classes dominantes - dominantes aqui dentro, dominadas desde fora - é a maldição de nossas multidões condenadas a uma vida de burro de carga”.
“Nossa riqueza gerou sempre nossa pobreza para alimentar a prosperidade de outros”.
“Em 1650 um senso realizado em Potosí, Bolívia, calculava uma população de 160 mil habitantes.Era uma das maiores e mais ricas cidades do mundo , 10 vezes mais habitada que Boston , em tempos que Nova Iorque nem sequer começava a se chamar assim”.
“Entre 1503 e 1660 chegaram ao porto de Sevilha 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata”.
“Os metais roubados dos novos domínios coloniais estimularam o desenvolvimento econômico europeu e até pode-se dizer que o fizeram possível”.

De Maringá para o Mundo.

Garimpando em algumas edições anteriores da publicação brasileira da revista francesa Le Monde Diplomatique do passado mês de janeiro encontrei uma reportagem do jornalista e escritor maringaense Dirceu Herrero Gomes que é um verdadeiro porto seguro em meio ao mar de lama que tornaram se as licitações no Brasil.
Em Maringá município do noroeste do Paraná, um grupo de voluntários indignados com a corrupção e a impunidade que imperam em nossa sociedade criaram uma organização não governamental -(ONG)- chamada Observatório Social de Maringá (OSM) que foi premiada pelas Nações Unidas -(ONU)- como melhor experiência em inovação social concorrendo com nada menos que 485 projetos de 33 países.
O objetivo da organização é acompanhar a aplicação correta do orçamento na cidade desde o processo de seleção de empresas fornecedoras até a entrega final do produto ou serviço contratado.
Como exemplo a reportagem menciona que em três anos de acompanhamento a ONG analisou 532 processos e descobriu que muitos dos produtos adquiridos pela prefeitura estavam com preços acima do valor de mercado. Foi o que aconteceu com o antiinflamatório tenoxicam, o município pagava pelo remédio um valor quase oito mil por cento superiores ao preço praticado pelas farmácias. Com as mudanças, dos 300 milhões previstos em gastos da prefeitura em 2009, o controle pode ter gerado uma economia superior a 100 milhões, permitindo que o município investisse mais em áreas básicas como a saúde, educação e segurança pública.
Vale à pena ler...
http://diplomatique.uol.com.br/

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Enchentes Alagoas

 
 
 
 
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Onde estão os médicos de Alagoas?

Hoje passamos o dia em Murici, cidade Alagoana afetada pelas enchentes do mês de Junho que deixaram milhares de desabrigados nos estados de Alagoas e Pernambuco.
Apesar de todos os esforços do governo federal para disponibilizar recursos em carater emergencial aos dois governos estaduais, passado 1 mês da catastrofe a situação dos desabrigados é desesperadora. As pessoas se amontoam em abrigos improvisados em galpões e depositos abandonados sem as mínimas condições de sobrevivência. Até o terminal rodoviário de Murici esta servindo de "lar" para dezenas de famílias.
Caminhei por alguns destes abrigos, no ginásio de esportes alguns dos moradores relataram que cerca de 200 famílias estão ocupando o espaço, convivendo com animais e suscetíveis a epidemias. Segundo o Dr Claudio ,pediatra da Ufal que estava a frente do nosso grupo, hoje foi diagnosticado o primeiro caso de Varicela (catapora) nos galpões próximo a rodoviária e que pela aglomeração de crianças existente, se alguma medida epidemiológica não for tomada urgentemente, diversas complicações podem surgir.
É notória a falta de médicos nas regiões afetadas pelas enchentes, o Conselho Regional de Medicina (CRM) de Alagoas fez um chamado aos profissionais do estado, que foi veiculado até pela TV, para que de forma voluntária fossem às regiões afetadas colaborar, somente 11 médicos se disponibilizaram. Conversando com integrantes da Organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) que se encontram no local, estes perguntavam onde estavam os médicos do estado que deveriam estar lá ajudando a populaçao do seu estado. Realmente esta pergunta fica no ar, onde estão os médicos de Alagoas?

domingo, 25 de julho de 2010

No a la guerra

Hay en este momento en el mundo riesgo inminente de que 3 grandes guerras puedan iniciarse, calquiera, desestabilizando la economia mundial y generando graves consecuencias a los mas pobres, ademas de diezmar miles de vidas de civiles inocentes. Israel x Iran, Corea del Norte X Corea del Sur, Colombia X Venezuela, y todas devido a la injerencia de los EEUU y su enfermo entento de manejar el mundo. No a la guerra,no al imperialismo yankee

quinta-feira, 22 de abril de 2010

HAITI- diario de bordo 5

07/03/10
Hoje, domingo, foi nosso dia de descanso e houve uma atividade esportiva aqui em nosso acampamento onde se reuniram companheiros de diversos acampamentos , foi muito bom rever velhos amigos de faculdade e nós brasileiros tomamos uma surra no futebol, vamos ter que aguentar a gozaçao até o final da missão.
Pela tarde fomos dar uma volta pelo centro de Porto Principe acompanhando o DR. Bernardine, um residente de cirurgia haitiano que nos ensinava um pouco de kreol e se esforçava muito por aprender algo de nosso idioma.
Ver como se encontra a cidade é realmente algo assustador , me senti dentro de um filme e a impressão que se tem é a de estar num local que foi atingido por uma bomba atomica .São quadras e quadras , kilometros e kilometros e a paisagem de destruiçao nao desaparece , um caos total , sem energia , o transito desorganizado ,as pessoas nas ruas , em barracas improvisadas, muito comercio informal , em meio a escombros, lixo ,plastico, esgoto, por todos os lados...... impressionante.

sexta-feira, 26 de março de 2010

HAITI- diario de bordo 4

06/03/10
Hoje foi um dia denso. Cenas fortes que fazem a cabeça dar voltas e surgem milhares de questionamentos existenciais, analise de valores, uma verdadeira lição de vida .
Amanheceu chovendo e nos dirigimos a um acampamento de desabrigados onde estão vivendo aproximadamente 800 pessoas em condições precárias ,pobreza extrema ,analfabetismo,fome, acredito que existam poucas coisas mais cruéis neste mundo que ver uma criança chorando de fome.
Eram barracos de lona, pano, pedras e pedaços de pau. Caminhamos entre os barracos ,não haviam colchões nem moveis, tudo era improvisado, as crianças nos observavam, é notável o numero de crianças e com elas muita escabiose , parasitismo,etc. Não existe educação em saúde .Eu trabalhei algum tempo no sertão do nordeste , numa região bastante pobre mas não se compara aquela situação. Vendo isso aqui de perto fica bem claro que no Brasil por muitas dificuldades que tenha a saúde, estamos anos luz no ponto de vista estrutural e funcional , com o nosso SUS que sem duvida é uma grande conquista do povo brasileiro .
Após o atendimento e vacinação, eu e Pedro ficamos em pé no meio do acampamento acredito quase uma hora olhando arredor e conversando sobre a situação daquele povo , a perspectiva de vida daquelas pessoas , analfabetas ,sem trabalho , vitimas sociais e históricas, o futuro daquelas crianças . Lembro das mulheres cozinhando no chão num fogo improvisado com pedaços de graveto , uma criança que lavava roupa num balde cheio de água suja e o complicado era saber que aquela era a casa deles ,o dia-a-dia deles. Lembro-me também que examinei a mama de uma senhora com um tumor já avançado que até aquele momento não havia recebido nenhuma atenção ,tratei de imaginar por alguns segundos frente a senhora aquela condição e a sensação de impotência misturada com uma vontade gritar tomava conta .... Muitos dos detalhes e cenas vistas prefiro guardar para mim, é inútil tratar de explicá-los , pode soar como uma narração dramatizada e longe disso , são fatos que estou vivenciando por isto me reservo a este direito .
No meio da tarde retornamos a nosso acampamento com os sentimentos a flor da pele e fomos ajudar limpar uma cancha de esportes para a atividade que ocorrera amanha domingo ,onde vamos disputar com outros acampamentos um campeonato de futebol e como bons brasileiros temos mais que obrigação de ganhar, senão ,vamos virar piada até o final da missão .
Das varias crianças e jovens haitianas que andam aqui pelo acampamento , um deles é o mais próximo ao nosso grupo , o chamamos de Michael, é um daqueles talentos perdidos , canta rap em Francês , em kreol ,dança parecido ao Michael Jackson.Ele sempre esteve próximo e nunca nos pediu nada , hoje o notamos um pouco mais calado que o comum apesar de ser seu aniversario e quando estávamos no computador após algum tempo ele disse que tinha fome e não tinha nada para comer , um dia tão especial como o que simbolicamente nos tornamos mais velhos e guardar como lembrança fome ,nos partiu o coração. Era hora do jantar e combinamos de dividir um prato de comida e dar o outro a ele. Michael devorou a comida em 1 minuto e sorrindo se sentou no chão e falava em inglês que estava cheio. Preparamos uma mochila onde cada um deu alguma coisa que tinha reservado para comer e cantamos parabéns em inglês e ele sozinho em kreol para que aprendêssemos ,tudo isso em meio a gargalhadas e cumprimentos . Assim tratamos de celebrar o final de dia do aniversario de Michael e deixar o seu dia um pouco mais alegre.

HAITI- diario de bordo 3

05/03/10
Hoje ,sexta-feira, após o trabalho sai para colocar crédito em meu celular com o objetivo de ligar para minha mulher e na volta encontrei o Memo, companheiro Mapuche ,nos sentamos num bar próximo ao acampamento ,tomamos algumas cervejas haitianas e dominicanas -porque ninguém é de ferro -escutando uma boa Bachata e conversando sobre a luta do povo Mapuche no Chile . Agora chove e vou descansar para continuar o combate amanhã.

segunda-feira, 15 de março de 2010

HAITI- diario de bordo 2

02/03
Hoje foi um dia impressionante .
Saímos literalmente numa jaula, armada na carroceria de uma caminhonete que nos levou por cerca de 30 minutos pelas ruas da cidade o que já causa uma grande impressão pelo estado de destruição em que se encontra , é impactante a quantidade de escombros que existe , o transito caótico ,a infra estrutura precária, o acumulo de lixo e plásticos nas ruas e esgotos , a miséria da população, a quantidade de crianças ,a super povoação .Também é notável nas calçadas a quantidade de pessoas vendendo produtos quase sempre importados devido a falta de industrias no pais, a impressão que se tem é que a cidade é um grande mercado negro em meio a escombros.
Éramos 3 médicos brasileiros ,1 chileno,2 cubanos ,1 haitiano que ajudava na tradução , e os 2 companheiros de epidemiologia que levavam suas bazucas de fumaça para eliminar vetores. O destino era um acampamento onde se encontravam crianças órfãs . Chegamos ,preparamos os materiais e medicamentos ,tirei algumas fotos do local e antes de iniciar a jornada o Psiquiatra Dr. Francisco ,uma pessoa admirável pela serenidade e inteligência , que tem como função na missão cuidar da saúde mental dos demais profissionais que aqui atuamos ,numa de suas raras saídas a campo -para não colocar em risco sua própria saúde mental- junto com algumas responsáveis pelo orfanato reuniu as crianças para ler um conto em Kreól (dialeto local) e entoarem cantos locais onde todos nos divertimos e nos movemos com a energia do momento. O olhar e o sorriso daquelas crianças era algo muito marcante ,uma mistura de profunda tristeza com a inocência e fragilidade das crianças que nos comoveu profundamente. Mas demos inicio a jornada de trabalho, o calor era muito intenso desde cedo , dentro de uma barraca grande ,branca ,que tinha um cartaz na entrada “doado pela Suíça”, engraçado fazer propaganda do que se doa ,pero Bueno....Em alguns minutos de iniciado o trabalho dezenas de pessoas se amontoavam para receber atendimento. A tradução a cargo da companheira haitiana era insuficiente para os 4 médicos e tínhamos que tratar de comunicarmos com algumas poucas palavras em Kreól que havíamos aprendido ,misturado com algo de francês ,um pouco de mímica , alguns pacientes que arrastavam inglês ou espanhol também facilitava a comunicação.
Já pelo meio dia uma pausa para tomar um copo de suco e algumas bolachas que havíamos trazido do acampamento ,quando sentados na sombra de uma arvore ao nosso lado se encontravam dois homens sentados num colchonete no chão onde dormia uma criança de menos de 1 ano , um deles nos falou algo em espanhol ,imediatamente o convidei para nos ajudar com o idioma ele respondeu que sim e após lancharmos e conversar um pouco o chamei novamente e ele de uma forma um pouco fria me disse que iria depois. Segui o trabalho um pouco decepcionado porque senti que o homem estava arrependido do compromisso , quando para minha surpresa após alguns minutos aparece bem vestido e arrumado , sorridente e disposto a cooperar sem pedir nada em troca. Depois disso pude junto ao novo amigo tradutor agilizar o trabalho e atender praticamente o dobro de pacientes que poderia ter feito estando só .
Ao final o companheiro empolgado queria saber se regressaríamos no dia seguinte mas infelizmente não controlávamos esta informação , pensei em dizer a ele que fosse ao acampamento pela manha para acompanhar nosso grupo mas devido a distancia e a dificuldade com o transporte me dei conta que talvez fosse a ultima vez que o estaríamos vendo .
Próximo as três da tarde quando encerramos os atendimentos ,antes de partir , as responsáveis pelo orfanato se preocuparam em nos recompensar pelo trabalho e amavelmente nos trouxeram umas caixinhas de isopor com arroz misturado a um tipo de pimenta temperado com canela , pedaços de banana frita e um pedaço de carne que acredito era de carneiro . Me senti constrangido com aquele banquete frente aquelas crianças humildes que também tinham almoço ,mas não queria desapontar as senhoras que com certeza não mediram esforços para nos agradar e confesso que comi com uma mescla de culpa e vergonha .Enquanto comia me dei conta que o tempo havia passado rapidamente e envolvido com a dinâmica do atendimento não tinha aproveitado um tempo a sós com as crianças .Rapidamente tratei de engolir a comida e antes mesmo de terminar levantei e pedi para reuni-las que queria tirar algumas fotos . Foi com certeza o momento mais emocionante do dia , se aproximaram e quando dei por mim estava rodeado de crianças que me tocavam o cabelo , puxavam minha barba e estivemos algum tempo ali juntos.Quando terminou discretamente sai da barraca ,procurei um canto tranqüilo e chorei.

HAITI- diario de bordo 1

Neste momento me encontro no Haiti e tratarei de postar alguns trechos de meu diário de bordo para que os amigos possam acompanhar um pouco do nosso trabalho neste país. Nos ultimos dois meses temos ouvido muito sobre Haiti, após o terremoto de 12 de janeiro que deixou um rastro imenso de destruição e dizimou cerca de 300 mil vidas num país já devastado pela miséria .
OBS: Quero pedir desculpas de antemão pelo português mal escrito e por não ter tempo de trabalhar melhor as palavras para que tenham ritmo e harmonia mais suave aos olhos.
28/02 - 04:43 AM
Chegamos a Havana terça feira (23/02). Seis brasileiros de vários estados que nos encontramos em São Paulo para seguir rumo Havana (Cuba) ,via Caracas (Venezuela) , onde nos encontraríamos com mais duas companheiras que vinham via Buenos Aires, com o objetivo de integrar o contingente Henry Reeve de apoio a Brigada Médica Cubana no Haiti. A viagem foi bastante descontraída apesar de cansativa pelas varias horas de espera em Caracas. O retorno a Havana foi um momento mágico , tive a sensação de que nunca havia saído de lá . Passear por suas ruas ao som de Salsa ,tomando um bom Havana Club e rever velhos amigos foi uma experiência rejuvenescedora.
Durante a semana em Havana recebemos orientações sobre a missão que nos aguardava além de cumprir com as questões burocráticas e tomar varias vacinas contra enfermidades infecciosas.
Agora no aeroporto aguardando o embarque para Port-au-Prince , bastante cansado , preparando a mente para o inesperado.

07:10 AM
Chegamos a Santiago de Cuba para uma parada de abastecimento . Todos exaustos ,dormindo pelos corredores ,devemos aguardar aproximadamente uma hora e meia para a partida até Porto Príncipe.
Em CNN estão passando noticias sobre o terremoto de 8.8 graus na escala Richter ocorrido no Chile ontem. Nos acompanham amigos chilenos notavelmente angustiados pela falta de informações sobre familiares .Seguem destino para ajudar vitimas tão distantes de um terremoto quando em seus próprios lares seus familiares são vitimas do mesmo problema. A vida nos prega peças duras.

23:45
No avião um oceano de sensações percorria meu corpo. A angustia frente ao desconhecido , a ansiedade frente ao perigo . Recordo quando eu e Pedro conversávamos e riamos sobre a reação das pessoas ao nos ouvir dizer que viríamos ao Haiti, e naquele momento surge a voz do comandante dizendo que em 10 minutos estaríamos pousando em Porto Príncipe.O inevitável frio na barriga surge e milhares de pensamentos giram na mente , avistamos terra e começaram a surgir dezenas de acampamentos azuis em meio a uma paisagem cinza , envelhecida e destruída pela miséria e pelo terremoto, aviões ,tanques ,vários helicópteros e enfim tocamos solo haitiano.
Ao descer fomos recebidos pelo pessoal cubano e arredor notava se uma intensa movimentação de maquinas , contêineres, soldados yankees ,pessoal da ONU, e ali mesmo na pista recebemos as boas vindas e primeiras orientações sobre a situação .Nos disseram que seriamos levados a um acampamento chamado Carrefour situado no epicentro do sismo e que as condições eram delicadas ,que tínhamos problema com a água , a segurança no país era frágil e deveríamos estar psicologicamente preparados para o que viria .
O que senti no caminho do aeroporto até o acampamento foi que estava chegando no inferno. Tanta miséria e destruição que pensava qual pecado merecia tamanho castigo e pude ver de forma bem clara o peso histórico da exploração sofrida pelas antigas colônias que tiveram suas riquezas saqueadas durante séculos para financiar o desenvolvimento dos países chamados de primeiro mundo que hoje desfrutam das benesses da educação , saúde , segurança e riqueza ao custo de milhões de vidas que desde a escravidão sofrem do mal do esquecimento e preconceito e que agora tem como tempero um terremoto que matou quase 300 mil pessoas.
O Haiti surgiu de uma rebelião de escravos ,realizou uma das poucas verdadeiras revoluções da historia onde ocorrem mudanças rápidas ,radicais e violentas nas esferas política ,econômica , social e cultural e foi a primeira colônia em conseguir a independência na America Latina. Estes feitos da que foi conhecida como a “Pérola do Caribe” custaram caro e hoje repousam num canto escuro da história . Em meados do século 18 era a colônia que mais riqueza gerava para a metrópole em todo o mundo e como recompensa é hoje o país mais pobre de toda América .
Contrastes e paradoxos que somente quando vistos de frente nos permite compreender a complexidade da condição humana e os limites a que está submetida nossa espécie.

Nace CELAC

RETIRADO DE REBELION.ORG Nace la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC) Declaración de Caracas Rebelión “En el ...